A menininha adentrou o ônibus dando passinhos acelerados. Parou diante do transparente quadro que se abria entre o metal sujo e deteriorado.
- "Tá tudo embaraçado aqui!" Apressou-se em dizer.
As palavras mal escapuliram e suas mãozinhas agitadamente deslizaram sobre a superfície do vidro. Gotículas de água escorriam de seus pequenos dedos e salpicavam o chão sorrateiramente sujo.
- "Embaçado, menina! Embaraçado é o teu cabelo". Corrigiu a mãe
- "Não é não!". Retorquiu a pequena com ar sisudo e emburrado.
E seus dedinhos de cerdas voltaram a pincelar a cristalina superfície de água que se depositara na janela do ônibus.
Quem estava próximo, por certo, agradeceu silenciosamente a ousadia daquela minúscula criatura. Em poucos minutos ela descrevera, sem saber, o estado momentâneo da vida de muitas pessoas daquele lugar, além de obsequiosamente proporcionar, aos que miravam aquela janela, uma visão limpa do tédio vaporoso que o inverno tropical alastra com suas constantes chuvas.
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